Saudações académicas.
Desde já, e antes de iniciar peço desculpa por estar a intervir no normal funcionamento do Moodle ao colocar este tópico, contudo penso que esta situação, a do “copianço”, nos afecta a todos, inclusive aqueles que este ano iram acabar o curso. Também acho importante fazer o apelo de ler o tópico todo antes de fazer qualquer tipo de intervenção, eu tenho consciência que é longo, mas penso que todos nos gostamos de ler ou pelo não menos não desgostamos tanto.
Escolhi este dia (25 de Abril), para fazer este tópico e abrir assim com esperança uma discussão a ter entre alunos, uma discussão a termos contra nos próprios sobre esta situação, em que realmente estou aqui a propor é uma revolução de mentalidade.
E antes de entrar na situação do “copianço”, é preciso perguntar porque é que há exames na universidade? E para ajudar-nos a entender melhor esta questão sobre os exames e “copianço” irei utilizar um texto deveras interessante de Ricardo Reis.
“ O principal objectivo do professor é que os alunos aumentem os seus conhecimentos. Como também é este o objectivo dos alunos, não deveria ser preciso perder tempo em exames. No entanto, se os alunos, jovens, têm dificuldade em comprometer-se a estudar, porque não conseguem resistir a outras tentações como ir para a praia ou namorar, então a possibilidade de reprovar um exame cria um custo em não estudar. Para evitar este custo, os alunos não cedem às tentações e fazem aquilo que realmente desejam, estudar.
Existe uma segunda razão para ter exames. A sociedade pede às universidades que sinalizem os alunos que são mais trabalhadores, inteligentes e esforçados. Esta informação é muito valiosa para os futuros empregadores, que assim evitam os enormes custos em avaliar cada candidato a emprego. Para responder a este pedido, as universidades criam obstáculos para os alunos ultrapassarem na forma de exames. Uma licenciatura passa assim a ser um certificado que o aluno passou esses obstáculos, e a média final um sinal mais preciso das dificuldades que teve.
Qual é o papel do "copianço"?
Se os dois objectivos principais dos exames são incentivar o estudo e permitir aos alunos sinalizarem o seu valor, qual é o papel do “copianço”? Se o aluno sabe que, com uma probabilidade positiva, pode copiar sem ser apanhado, então não vai resistir a esta tentação assim como não resistia a ir à praia ou namorar, pelo que deixa de estudar. Por sua vez, se o mercado de trabalho sabe que os alunos copiam, então a licenciatura ou média de curso perdem valor como sinal, porque deixam de distinguir entre os bons alunos e os alunos que copiam bem. Copiar ataca na raiz as duas funções dos exames. Daí o esforço das universidades em combatê-lo. Os únicos beneficiados do estado de “copianço” são os alunos que não têm como objectivo aprender, e os alunos que se apercebem que a universidade vai sinalizar o seu baixo valor pelo que preferem eliminar o sinal na esperança de serem confundidos com outros de maior valor.
Na minha vida, passei por três sistemas de ensino.
Em muitas universidades portuguesas, muitos copiam abertamente e quem não ajuda no acto de copiar é visto como mau colega. As regras das universidades tornam difícil condenar um aluno apanhado a copiar e as punições são leves. Em Inglaterra, nas universidades que conheço, os exames têm muitos vigilantes e regras rígidas. O sistema de exames é custoso (e por isso os exames raros) mas é muito difícil copiar. Nas universidades de topo nos EUA, em contrapartida, a vigilância é baixa. Em Princeton, o professor é obrigado a deixar os alunos sozinhos na sala durante o exame. Vigiá-los seria uma falta de confiança, até porque todos assinam no topo da folha de resposta uma jura de que se vão comportar de uma forma honrada. Mas se alguém é apanhado a copiar (ou porque foi denunciado por um colega ou porque as respostas o tornam óbvio) então a punição é muito severa – pelo menos suspensão por um ano e talvez expulsão”
(Texto de Ricardo Reis)
Daqui resumidamente podemos retirar, que o sistema inglês tem muitos vigilantes e penas mediamente severas, o sistema americano por seu lado tem poucos vigilantes ou nenhuns mas penas bastante severas, e o nosso sistema (o português) nem tem muito vigilantes nem tem pena mediamente severas (eu questiono-me se é que tem mesmo penas).
Então qual seria o melhor sistema a adoptar? Penso que o nosso, esta fora de questão porque se ate hoje não tem dado provas não será a partir de hoje que ira dar. O sistema inglês é quase impossível de fazer, visto que é preciso muitos vigilantes, o que por sua vez leva a mais dinheiro publico, logo era necessário que os responsáveis nos ouvissem, mas há demasiado tempo que estão muito lá cima para ouvir os pequenos que estão aqui em baixo. No que toca ao sistema americano era preciso que houvesse uma mudança de mentalidade e penas mais severas, no que toca a esta segunda condição era preciso que o Ministério da Cultura e da Tecnologia nos ouvisse tal como a própria reitoria, contudo leva-me a duvidar, já que não nos ouvem para coisas simples quando mais aumentar a severidade das penas, no assunto do “copianço”.
Contudo e para terminar, a primeira condição (mudança de mentalidade) podemos fazer, como tal o que estou a apelar é que , quem é contra o copiar, não deixe copiar, quem é indiferente faça igual, não deixe copiar, porque os que são realmente a favor do copiar, entenda-se, necessitam do copiar são muitos poucos, ou pelo menos espero bem que sim. E obviamente que este discurso não é para esses.
E agora deixo no ar a questão, que tipos de profissionais seremos nós se nos basearmos no “copianço”? Na minha opinião e fazendo uma comparação exclusiva com Portugal ate podemos ser bons (em alguns casos) mas comparando com outras sociedades penso que será difícil passar do estatuto de medíocre. E hoje a dia a palavra de ordem é a globalização.
Sem qualquer outro tipo de assunto, despeço-me com saudações académicas, e um bom feriado, já agora para todos os que me acharem demasiado espirituoso (entre tantas outras coisas “boas”), deixo esta frase:
“Mais vale um tolo espirituoso do que um espírito tolo".
William Shakespeare.